Ninguém poderia descrever Maitê Proença
melhor que a própria. Aos 54 anos recém-completados em 28 de janeiro, a
atriz, que não faz mais análise, diz que se conhece muito bem, que
enfim está se entendendo. ''Eu sou quase louca. É que disfarço bem'',
disse rindo, mas se levando bem a sério, durante um bate-papo de quase
duas horas no Hotel Cataratas, o único dentro do Parque Nacional de Foz
do Iguaçu, no Paraná.
Ela vai falando e diz ainda que não é convencional. Ok, a gente
acredita que aquela mulher, linda, em forma e naturalmente sensual aos
54 anos, é louca. ''Eu sou muito otimista. Acredito que tudo vai dar
certo mesmo quando todas as evidências mostram que não. E sou muito
livre. Cheguei a um ponto em que tenho poucos medos. Posso quase seguir
com uma venda nos olhos, andar no escuro, seguindo minha intuição, que
ela vai me levar ao lugar desejado. É quase a visão do louco, né? Mas
não é. É tudo bastante coerente e não foi pensado, porque pensar limita.
Eu não sou uma pessoa racional. Sou também, mas não fico pensando, vou
andando'', explicou.
A atriz também se descreve como uma pessoa inquieta. Só para se ter uma
ideia, neste mês ela está acabando de organizar um livro coletivo
chamado É Duro Ser Cabra na Etiópia, vai filmar um longa no Carnaval,
com Domingos de Oliveira, 75, e começa a se preparar para o remake de
Gabriela. E quer aprender a fazer suspiros como um que ela experimentou
na infância, em Buenos Aires. Tem ainda uma peça escrita, À Beira do
Abismo Me Cresceram Asas, sem previsão de iniciar a produção. ''Estou
sempre arrumando sarna pra me coçar'', resumiu bem-humorada.
De coração aberto, Maitê recordou da infância sem traumas, inclusive da
mãe, morta pelo pai quando ela tinha 12 anos, e descreveu com carinho
tanto ela como o pai, que se matou anos depois. E falou de momentos
engraçados de quando tinha uns 7 anos e que, segundo ela, hoje explicam
muito a mulher que se tornou. ''Meu pai cortava meu cabelo no barbeiro e
vinham me perguntar se eu era menino ou menina. Uma vez falei pra minha
mãe que queria fazer balé e ela disse que era coisa pra menininha boba,
pra filhinha de papai, e me colocou no judô. Eu era a única menina no
meio e saía cheia de hematomas. Não tive chance de ser molinha, de virar
menininha. Minha mãe não gostava dessa coisa de mulher fraquinha que
fica reclamando da vida. Por isso sou assim,da porrada. Eu sou cheia de
cicatrizes pelo corpo e não me lembro de um dia alguém me chamar de
coitadinha. Era tudo no pá-pum, e banho frio, nada de banho quente. Não
tinha moleza. Só hoje é que vejo que eles foram muito duros. Mas os dois
eram afetuosos de outra forma. Meu pai, por exemplo, fazia mágicas
incríveis e contava histórias.''
Maitê reconhece que, no início de carreira, não era boa atriz. Ela
acredita que, naquele tempo, ainda tinha ''tumultos íntimos'' a resolver
e não conseguia se entregar por inteiro emoções. ''Um ator precisa
mergulhar em emoções e eu não estava preparada para isso quando fui
atuar. Eu tinha de resolver minhas questões familiares, mas ainda não
era hora de mexer naquele vespeiro, porque o assunto era muito delicado
para mim. O ofício de atriz, apesar de ter tocado na ferida, ao mesmo
tempo me salvou, de certa forma. Porque era o personagem que estava
sofrendo, triste por ter passado por uma perda, não a Maitê. Eu me
olhava na tela e achava uma m... Eu sabia que estava aquém do que eu
podia fazer, mas não me arrependo. Tive de ir para a escrita, um
mergulho muito mais recolhido, onde consegui tocar no fundo fazendo
metáforas (ela é autora do livro Uma Vida Inventada, em que mistura sua
vida real e ficção, de um livro de crônicas e três peças teatrais)''. O
processo a depurou. ''Se eu fizesse Dona Beija hoje, ganharia o Oscar.''
Velhinha ajeitada e esportiva
Maitê tem rugas, sim, mas não há quem não pare para olhar para ela.
''Não sinto que tenha 54 anos. Não é sorte, não é de graça. Todos os
dias da minha vida, sempre fiz o melhor que eu pude, com flexibilidade,
claro.Você tem de saber a hora de soltar a franga, chutar o balde. Acho
que vou ficar uma velhinha ajeitada e esportiva. Às vezes eu nado ou
corro na praia. E normalmente faço pilates e musculação no Copacabana
Palace, que é meu playground (ela mora no Chopin, vizinho ao hotel).
Nunca engordei, porque se eu engordo 1 quilo, no dia seguinte emagreço
aquele quilo. Estudei nutrição por seis anos, sei o que tenho de fazer. E
não tenho pele boa porque tenho sorte. Eu não uso creme, porque sou
alérgica, só uso filtro solar. E eventualmente faço botox, bem pouco.
Não uso nada tóxico, maquiagem só de vez em quando. Não uso antibiótico,
antiflamatório nem o GH que toda atriz toma. Não sei se tenho coragem
de fazer essa experiência. Ah, e durmo muito.''
BY REVISTA CONTIGO!
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